Um estado que vai muito além das belezas naturais: o Rio de Janeiro é um território onde identidade, reputação, cultura e inovação se transformam em diferencial competitivo. E ainda há muito mais a ser desenvolvido e valorizado. É o que revela o estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o Mapa Rio Soft Power, ferramenta inédita, que mede o poder de influência e reputação de 20 municípios fluminenses a partir de dados econômicos, culturais, acadêmicos e simbólicos.
Acesse o Mapa Rio Soft PowerO Mapa foi lançado nesta quinta-feira (27), dentro do Encontro Internacional da Industria Criativa, promovido pela Casa Firjan. “É um mapa do Rio, que mostra onde estão forças tangíveis e intangíveis do estado. Entender o Soft Power é entender como reputação e identidade também geram desenvolvimento socioeconômico”, explica Luiz Césio Caetano, presidente da Firjan.

Um Rio possível
O estado do Rio de Janeiro, assim como o Brasil, reúne uma abundância de recursos imateriais e intangíveis que contribuem para uma imagem globalmente reconhecida. Mesmo diante de desafios estruturais relacionados à segurança, saúde, educação, infraestrutura e ambiente de negócios, o estado preserva ativos simbólicos que inspiram admiração e despertam interesse internacional. A questão central, hoje, não é apenas reconhecer esses atributos, mas explorá-los de forma estratégica, ampliando seu potencial de geração de valor e retorno econômico.
“O estado do Rio possível é aquele que encara suas limitações com realismo e suas vocações com estratégia. Isso significa apostar em um modelo de desenvolvimento que una eficiência na gestão pública, diversificação econômica e valorização dos ativos intangíveis para gerar resultados concretos. Trata-se de construir um futuro viável, baseado em parcerias entre governo, empresas e sociedade, capaz de transformar o que o Rio tem de melhor em base sólida de crescimento e influência”, sugere o presidente da Firjan.
No fim das contas, a proposta vai além da análise: o Mapa pretende ser um guia estratégico para políticas públicas, negócios e projetos territoriais. Ele mostra por onde passam os caminhos da nova economia fluminense, ao transformar cultura, história e inovação em autossustentabilidade. “Mais que medir PIB, estamos medindo potencial de futuro. Talvez seja isso que o Rio sempre soube fazer melhor: transformar o imaterial em valor, e o valor em influência”, afirma Julia Zardo, gerente de Ambientes de Inovação da Firjan e coordenadora da pesquisa.
Um GPS para a economia simbólica
O Mapa Rio Soft Power foi construído a partir de dez indicadores: Produto Interno Bruto (PIB); PIB per capita; Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); densidade empresarial; densidade acadêmica; presença de indústrias criativas; histórico do município com a incorporação do Soft Power em seus produtos e serviços; ativos tangíveis; ativos intangíveis; atores e articulações locais; cruzados com fatores culturais, históricos e identitários.
As análises combinaram dados quantitativos de bases oficiais, como IBGE, e se inspira em referências internacionais como o Global Soft Power Index e o Nation Brands Index. “Essas fontes trouxeram para a pesquisa a metodologia e a inspiração de índices mundiais, permitindo adaptar para a realidade fluminense parâmetros usados na medição do poder de influência de países e cidades no cenário global”, aponta Oswaldo Neto, analista de Projetos Especiais da Firjan e um dos responsáveis pelo estudo.
Ranking de desenvolvimento do Soft Power dos municípios fluminenses:

Segundo o levantamento, sete cidades entre as 20 pesquisadas já atingiram um bom nível de influência, o “Soft Power influente”, e têm potencial para levar valores do Rio para o mundo: Niterói (100 pontos), Rio de Janeiro (92), Nova Friburgo (88), Petrópolis (84), Teresópolis (84), Angra dos Reis (80) e Campos dos Goytacazes (80). Os municípios se destacam por combinar inovação e desempenho econômico sólido com densidade criativa e capacidade de atrair investimentos e talentos.
Niterói, por exemplo, chega ao topo do Mapa com PIB e PIB per capita mais positivos que o da cidade do Rio. Com economia diversificada que combina polo offshore, serviços avançados, comércio ativo e uma crescente cadeia criativa, tem nos dados, no urbanismo e na sustentabilidade, os pilares de sua força simbólica. Projetos como a TransOceânica, o túnel Charitas–Cafubá e a requalificação das lagoas de Piratininga e Itaipu transformaram mobilidade e meio ambiente em ativos de bem-estar e imagem urbana. Equipamentos icônicos, como o Museu de Arte Contemporânea e o Caminho Niemeyer, reforçam seu potencial cultural e estético, enquanto a Cantareira se consolida como polo criativo e universitário. “O desafio é manter a integração entre tecnologia, natureza e participação social, ampliando conexões entre o Centro, Regiões Oceânicas e a Baía de Guanabara”, sinaliza Neto.
Já o a cidade do Rio de Janeiro tem vocação múltipla. É urbana pela forma como reinventa seus espaços; é histórica e patrimonial por carregar o legado de séculos de cultura e arquitetura; é ambiental pela natureza integrada ao cotidiano; e é científica e criativa por ser berço do conhecimento, da arte e da inovação. Sua força está em transformar paisagem em pertencimento, diversidade em identidade e urbanismo em cultura viva.
Para Julia, “quando o Rio se reinventa, ele não muda apenas o mapa: ele inspira o mundo”. Ela acredita que para fortalecer o Soft Power da capital, é essencial consolidar o vetor Urbanismo + Cultura + Inovação, posicionando a cidade como modelo de criatividade urbana. Para isso, seria desejável expandir políticas de uso misto e habitação no Centro e Porto, estimulando uma lógica de cidade viva; investir em mobilidade sustentável, priorizando pedestres, ciclistas e integração entre modais; valorizar territórios periféricos e favelas, como polos de produção cultural e estética; e promover infraestrutura verde e azul, com arborização, drenagem natural e reuso de águas, reforçando o vínculo entre cidade e natureza.
Em seguida, está o grupo “Soft Power consolidado”, reunindo Paraty (76), Vassouras (72), Três Rios (72), Itaguaí (72), Duque de Caxias (72), Paraíba do Sul (64), São João da Barra (60) e Itaperuna (56), cidades cuja reputação já se tornou ativo de valor.
Paraty é referência em preservação ambiental e patrimonial, com 85% de sua vegetação nativa protegida e um conjunto arquitetônico reconhecido pela Unesco como Patrimônio Mundial Misto. Para fortalecer seu Soft Power, a cidade poderia buscar posicionar-se como referência em sustentabilidade e cultura viva, valorizando a narrativa caiçara como ativo simbólico e econômico e expandindo parcerias e eventos que a posicionem como um hub do conhecimento do mar, unindo cultura, natureza e inovação.
No nível “Soft Power em desenvolvimento” estão municípios ainda em processo de consolidar a própria imagem e ampliar visibilidade, como Nova Iguaçu (48), Santo Antônio de Pádua (48), São Gonçalo (44), Guapimirim (44) e Carmo (40). Mesmo em se tratando da última colocada do ranking do Mapa, Carmo tem o tempo como aliado: a história não é passado, é patrimônio vivo. “O fortalecimento de Carmo, no estudo, passa por transformar seu patrimônio histórico em ativo econômico e cultural, estimulando e economia criativa e o turismo de memória com produtos como a Cachaça da Quinta e eventos como a Lavagem da Ladeira, para reforçar identidade, pertencimento e novas oportunidades para o município”, exemplifica Neto.
Lições do mundo
Além do nível de maturidade de Soft Power das cidades, outros quatro grandes eixos expressam as vocações simbólicas e econômicas fluminenses: Urbano, Meio Ambiente, História e Patrimônio, e Conhecimento.
O Eixo Urbano reúne cidades como Rio de Janeiro, Niterói, Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São Gonçalo, onde a cultura das ruas, o planejamento e a criatividade se tornam vetores de influência, em movimento semelhante ao de Londres, referência mundial em urbanismo criativo.
No Eixo Meio Ambiente, municípios como Guapimirim, Paraty, Itaguaí, Três Rios e Santo Antônio de Pádua transformam biodiversidade e turismo sustentável em estratégia de desenvolvimento, em sintonia com a lição da Amazônia, que projeta o Brasil pela força de sua natureza preservada.
Já o Eixo História e Patrimônio valoriza cidades como Carmo, Paraíba do Sul, Vassouras, Teresópolis e Nova Friburgo, que convertem memória e arquitetura em ativos de identidade, a exemplo do México, que fez de seu patrimônio um motor econômico e cultural.
Por fim, o Eixo Conhecimento destaca Itaperuna, São João da Barra, Angra dos Reis, Campos dos Goytacazes e Petrópolis, territórios onde ensino, tecnologia e inovação impulsionam o desenvolvimento, em linha com o modelo da China, que transformou educação e pesquisa em instrumentos de poder global.
“Juntos, esses quatro eixos revelam um Rio que se reinventa ao reconhecer no intangível a base para construir nova influência no mundo. Temos vários exemplos de territórios internacionais que entenderam que o desenvolvimento começa na identidade. O nosso estado tem todos os ingredientes para seguir essa receita”, destaca Julia.
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