Com o tema “Conectando Indústria e Cliente: Design como Estratégia para Novas Rotas de Vendas”, a 9ª Jornada Imersiva Firjan IEL reuniu empresários, empreendedores e especialistas, na Casa Firjan, neste sábado (8/11). O encontro propôs um mergulho nas práticas de design estratégico e inovação orientada ao cliente, reforçando o papel do design como diferencial competitivo e motor de transformação industrial.
A programação, realizada em parceria com o Departamento de Design do Politécnico de Milão, contou com masterclass, painel de empresárias, workshop e visita guiada ao laboratório de fabricação digital e experimentação da Casa Firjan (FabLab), um dos maiores da América Latina.
Na abertura, Carla Pinheiro, diretora da Firjan, destacou a relevância do tema: “É muito bom ver este auditório cheio de líderes e inovadores debatendo o design, que percorre todos os nossos produtos e serviços. Quando aplicado de forma estratégica, aproxima a empresa do cliente, gerando diferencial competitivo e sustentabilidade a longo prazo.”
Empresária do setor de joias e bijuterias, Carla ressaltou a importância do design como essência de valor no mercado criativo: “No nosso setor, o design não é apenas estética, ele desperta emoções, marca momentos e eterniza histórias”, enfatizou, destacando a importancioa das jornadas Firjan IEL. “Eventos como este ajudam os empresários a igualar o poder competitivo das pequenas empresas às grandes corporações, oferecendo acesso a conhecimento e ferramentas estratégicas de inovação”, completou ela, que também preside o Sindicato das Indústrias da Joalheiria e Lapidação de Pedras Preciosas do Estado do Rio de Janeiro (Sindijoias).
O destaque do evento foi a participação de Matteo Ingaramo, professor do Politécnico de Milão e especialista em Design Estratégico e Inovação Orientada pelo Design. O pesquisador apresentou tendências globais e mostrou como é possível direcionar a inovação, aprimorar a percepção de valor e orientar as empresas na criação de soluções centradas nas necessidades reais dos clientes.
“O design não resolve sozinho. Ele colabora. É uma ferramenta estratégica para compreender oportunidades e fortalecer a competitividade antes de inovar. A inovação é importante, mas também é arriscada e deve ser uma escolha consciente, não o primeiro passo”, afirmou.
O professor do Politécnico de Milão destacou que inovação sem propósito pode ser perigosa, pois ignora o conhecimento e os processos já consolidados pelas empresas. Para ele, a busca não é apenas por novidade, mas por competitividade sustentável e clara transferência de valor entre indústria e consumidor.
Ao comparar diferentes períodos, Matteo Ingaramo analisou o legado do design italiano dos anos 1960 e 1970, exemplificado por Achille Castiglioni, e o modelo contemporâneo de empresas como a Apple, que transformaram o design num processo integrado, centrado na experiência do usuário.
“O bom design hoje é aquele que traduz tecnologia e complexidade em experiências simples e eficazes. Não se trata de inventar algo novo, mas de comunicar valor com clareza e propósito. Ele deixou de ser um ato individual e artístico. Hoje é um processo organizado, com responsabilidade compartilhada entre empresa e designer. É preciso gerar impacto positivo”, analisou.
A Jornada Imersiva Firjan IEL contou também com o painel com cases de empresas que colocaram o cliente no centro dos seus processos. A mediação foi conduzida por Maria Isabel Oschery, gerente de Inovação Empresarial da Firjan e mestre em Design Estratégico pela Universidade Tecnológica de Delft (Holanda), com a participação de Arianny Vianna, cofundadora e diretora criativa da DLK Modas, e Flora Serra, responsável comercial e financeira do Café Fazenda Consuelo.
“É uma oportunidade de ouvir duas mulheres inspiradoras, que estão fazendo acontecer, compartilhando os obstáculos que superaram, os desafios que enfrentam e as lições e dicas que deixam para a indústria ao adotar essa abordagem”, disse Bebel, ao anunciar as participantes.
Representando o setor têxtil, Arianny falou como transformou a DLK Modas — marca de moda fitness de Nova Friburgo — em uma empresa digital com propósito, unindo design, tecnologia e emoção. A marca, que nasceu em 2013 e hoje tem 240 colaboradores diretos e 2 milhões de clientes cadastrados, construiu sua base a partir do e-commerce e da criação de uma comunidade engajada de consumidoras, as DLK Lovers.
Segundo Arianny, o diferencial da confecção está em mostrar os bastidores da produção. “Quando mostramos que há pessoas por trás das peças, o cliente se encanta e cria vínculo com a marca”, afirmou. A empreendedora relatou também a importância de estudar comportamento humano e tendências, utilizando plataformas como a WGSN para antecipar movimentos de mercado. “A gente dita 70% e o cliente traz 30%. O equilíbrio entre inovação, tecnologia, tecido e preço é o nosso maior desafio”, explicou.
Já Flora Serra, do Café Fazenda Consuelo, compartilhou o desafio de unir tradição familiar e inovação na produção de cafés arábica sustentáveis cultivados em Garça, interior de São Paulo. Após quase 15 anos no mercado financeiro, ela retornou às origens em 2023 para liderar a expansão da empresa, com foco em gestão, rastreabilidade e relacionamento com o consumidor final. “O consumidor quer saber de onde vem o café, quem o produziu e qual é o impacto da sua escolha. Mostrar essa jornada é o que gera conexão”, avaliou.
A programação contou ainda com o workshop liderado por Venanzio Arquilla, designer e professor associado da Escola de Design do Politécnico de Milão, numa imersão interativa com exercícios práticos, sessões de cocriação e a apresentação de resultados, configurando-se como um verdadeiro laboratório de ideias voltado a transformar teoria em ferramenta estratégica para o cotidiano profissional dos participantes.