Durante a pandemia, a China já destinou ao mercado internacional mais de 350 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 e aplicou outras 350 milhões em sua população. A informação é do CEO da BeiGene, que participou do Diálogos da Inovação – Indústria Farmacêutica e de Biofármacos. O encontro virtual, uma parceria da Firjan e da Faperj, reuniu especialistas, em 17/06, para discutir o ecossistema de inovação na saúde, com base na experiência da China e do Brasil.
A partir de 2015, a indústria farmacêutica chinesa cresceu muito rápido. “O governo regulamentou o setor para facilitar o acesso à inovação, vieram talentos de outros países e houve grande investimento. É preciso tratar mais pacientes com remédios inovadores e preço acessível”, analisou Xiaobin Wu, CEO da BeiGene, farmacêutica que desenvolve remédios para vários tipos de câncer.
“Cinco farmacêuticas, como Roche e Pfizer, estão entre as 15 maiores empresas do mundo em pesquisa e desenvolvimento. Os investimentos são vultosos e os resultados imprevisíveis. Por isso, é preciso ter instalação, recursos, profissionais e um projeto de resultado”, avaliou Carlos Fernando Gross, vice-presidente da Firjan e presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado do Rio (Sinfar). Ele lembrou que o número de indústrias filiadas ao Sinfar caiu de 115 para 45 ao longo dos anos.
Lelio Maçaira, presidente do Laborvida Laboratórios, acredita que a produção de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) deve ser uma política pública do país. “Esses insumos são muito caros e a produção foi deslocada para a Ásia. Nos anos 1980, o Brasil era um dos cinco maiores produtores de IFAs do mundo”.
O Brasil tem um déficit comercial de US$ 20 bilhões na área de saúde, segundo Carlos Gadelha, coordenador das Ações de Prospecção da Fiocruz. “É preciso mudar os óculos e olhar a China, não como inimigo, mas como futuro parceiro tecnológico e de negócios. Não basta ser forte na pesquisa, sem a indústria, a inovação e tecnologia”. A Fiocruz está construindo o Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde, em Santa Cruz, que poderá alavancar o setor no estado do Rio.
José Graça Aranha, diretor regional do Escritório da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) no Brasil, concorda com Gadelha e afirma que devemos cooperar também em matéria de patentes. “O fortalecimento do sistema de propriedade intelectual é importante para a inovação. É preciso seguir o exemplo chinês. O país planejou bem e hoje tem 3,6 milhões de pedidos de patentes, enquanto o Brasil mantém o mesmo número de pedidos anuais que tinha há 20 anos”, comparou.
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