
Helena Theodoro, filósofa e professoraFoto: Divulgação/Firjan
Três dos mais respeitados pensadores brasileiros, o antropólogo e educador Tião Rocha, a filósofa e professora Helena Theodoro, e o escritor e ativista da causa indígena Daniel Munduruku estiveram no último dia do III Encontro de Educadores do Século XXI – A Escola em Tempos de Complexidade, na Casa Firjan. O evento realizado pela Firjan SESI debateu por dois dias (11 e 12/7) os caminhos da educação no Brasil e trouxe reflexões profundas sobre o papel da escola, os saberes populares, a diversidade e os caminhos para uma educação mais humana e transformadora.
Com linguagem direta e envolvente, o educador Tião Rocha defendeu a educação como prática de escuta, diálogo e construção coletiva. Fundador do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, ele compartilhou experiências de mais de 40 anos de atuação em comunidades tradicionais e periferias urbanas, onde aprendeu que educar é mais do que ensinar: é criar vínculos, é transformar o cotidiano em sala de aula.
“Não existe um único jeito de aprender, assim como não existe uma única inteligência. A escola precisa acolher os diferentes modos de saber e valorizar o que cada aluno traz de sua história e território”, afirmou Rocha que criticou modelos engessados e padronizados de ensino e propôs uma visão mais viva da escola, onde o afeto e a cultura local têm papel central.
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Tião Rocha, antropólogo e educador | Foto: Divulgação/Firjan |
Ele provocou os participantes com uma pergunta simples: “A escola ensina, mas quem aprende? E o que se aprende, realmente?”. Para ele, há um descompasso entre os conteúdos oferecidos e os interesses e necessidades reais dos estudantes. “Se a escola não dialoga com a vida, ela perde o sentido. É preciso transformar o conhecimento em convivência, em experiência. Não dá mais para tratar aluno como depósito de conteúdo”, sentenciou.
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A filósofa e professora Helena Theodoro emocionou a plateia ao trazer uma abordagem potente sobre as contribuições africanas e afro-brasileiras para a formação do Brasil e da educação. Com décadas de pesquisa sobre cultura, ancestralidade e religiosidade, ela apontou o racismo estrutural como uma barreira que ainda precisa ser superada no ambiente escolar e destacou a importância de uma educação antirracista e plural.
“A escola precisa ensinar a pensar com o coração e com o corpo, não apenas com a cabeça. E isso passa por reconhecer as histórias e os saberes silenciados por tanto tempo”, disse Helena. Ela convidou os educadores presentes a romperem com visões eurocêntricas e a promoverem uma educação que reflita a diversidade do povo brasileiro.
Segundo a filósofa, os valores de solidariedade, ancestralidade e resistência presentes nas culturas africanas são fundamentais para pensar uma educação mais inclusiva e consciente. “A escola pode ser um espaço de libertação ou de reprodução de desigualdades. Cabe a cada educador escolher qual caminho seguir”, destacou.
Com a palestra “Educar é reencantar o mundo: saberes ancestrais para tempos de ruptura”, Daniel Munduruku também esteve no último dia do III Encontro de Educadores. O escritor, professor e ativista da causa indígena palestrou com a proposta de reencantar o mundo com saberes ancestrais na educação. “Educar é mais do que ensinar; é acender fogueiras de sentido. Precisamos parar de pensar que ensinar é encher recipientes. Precisamos ouvir o mundo, ouvir o outro, ouvir a nós mesmos”, disse o escritor.
Munduruku, que pertence ao povo indígena Munduruku, também propôs um deslocamento no olhar educacional tradicional. Concordando com os outros palestrantes, acredita que a e, a escola deve se tornar um lugar de escuta, de presença e de conexão com a vida. “Nós, povos indígenas, nunca nos desconectamos da terra. Nosso conhecimento não está nos livros, mas nas vivências, nos ciclos, nos corpos e nas histórias”, afirmou.
Daniel destacou que os saberes ancestrais indígenas oferecem chaves importantes para lidar com as crises do presente. A espiritualidade, o vínculo com a natureza e a valorização da oralidade foram enfatizados como caminhos possíveis para restaurar o equilíbrio entre o humano e o mundo.
Tanto Helena Theodoro, quanto Tião Rocha e Daniel Munduruku ressaltaram a urgência de se repensar o papel da escola diante das transformações do mundo contemporâneo.
O Encontro de Educadores do Século XXI integra uma série de ações da Firjan SESI voltadas à valorização dos profissionais da educação e à construção de uma rede de ensino mais conectada com as realidades sociais, culturais e econômicas do país.
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Daniel Munduruku (ao microfone) é escritor e ativista indígena | Foto: Divulgação/Firjan |