No Encontro Empresarial 2025, realizado pela Firjan, nesta quarta-feira (10/12), os setores de base e de consumo foram tema de dois painéis. As lideranças empresariais convergiram para um diagnóstico comum: o Rio de Janeiro tem força industrial, identidade cultural e vocações regionais capazes de impulsionar um novo ciclo de desenvolvimento, desde que consiga avançar em competitividade, inovação e ambiente de negócios. No evento também foi apresentado o Estudo Rio de Futuro.
O primeiro painel, dedicado aos setores de base/estruturantes, foi moderado por Mauro Alvim, diretor executivo da Altec Industrial e presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e do Material Elétrico de Nova Friburgo (Sindmetal CN). Ele abriu o debate destacando que áreas como construção civil, metalmecânico, petróleo e gás, infraestrutura e naval “sustentam grandes investimentos e formam cadeias produtivas complexas”, sendo decisivas para o futuro industrial do Rio.
Antônio Mello, diretor institucional da Stellantis, destacou a importância do Cluster Automotivo do Sul Fluminense, que reúne montadoras como Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e Chrysler, além de mais de 27 fornecedores diretos. Ele alertou para dois desafios centrais: a transição tecnológica dos veículos híbridos, elétricos e movidos a biocombustíveis, e a competição chinesa.
“A China se preparou por décadas para ser a indústria do mundo. No automotivo, produz 25 milhões de carros e tem capacidade para 50 milhões. Como competir com isso?”, questionou. Segundo Mello, o debate não deve se limitar a incentivos, mas à busca por isonomia competitiva, considerando que a competitividade é sistêmica e depende da empresa, do setor e do ambiente de negócios.
Letícia Villa-Forte, diretora de Finanças e Estratégia da Prumo, falou sobre a importância estratégica da ferrovia EF-118, uma obra decisiva para destravar a competitividade do Norte Fluminense. “Ela não é apenas uma estrada de ferro; é o corredor que conecta o Porto do Açu ao restante do estado, permitindo integrar produção, logística e indústria. Sem a EF-118 plenamente operacional, o potencial do Açu fica limitado.”
Para Letícia, a construção da EF-118 vai reduzir custos logísticos, melhorar a previsibilidade e encurtar o tempo de deslocamento de cargas. “Isso muda o jogo para setores como metalmecânico, petróleo e gás e até para a indústria naval. É uma obra que destrava investimentos, porque facilita o acesso ao maior porto de águas profundas do país e precisamos tratá-la como prioridade estratégica para que o Rio possa, de fato, aproveitar o ciclo de investimentos logísticos e industriais que se aproxima”.
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| Antonio Mello (Stellantis), Raul Sanson (Firjan), Marcelo Kaiuca (Induscimento), Letícia Villa-Forte (Prumo) e Mauro Alvim (Sindmetal CN) | Foto: Pedro Kirilos |
Já Marcelo Kaiuca, vice-presidente da Firjan e presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos de Cimento do Estado do Rio de Janeiro (Induscimento), apontou obstáculos que ainda comprometem a competitividade do setor da construção, entre eles a baixa previsibilidade regulatória, a fragmentação das normas e gargalos logísticos que encarecem projetos e afetam a atratividade do mercado fluminense. “Temos um enorme espaço para avançar”, afirmou, defendendo maior planejamento, métodos industriais, modularização e reorganização de plantas produtivas para elevar a produtividade em até 25% no curto prazo.
Raul Sanson, vice-presidente da Firjan, destacou que o empresário fluminense sabe produzir e sabe inovar, mas falta um ambiente que não penalize quem quer investir. “Precisamos romper o ciclo de insegurança regulatória e custos excessivos. Melhorar o ambiente de negócios não é apenas uma demanda do setor produtivo, é condição para o Rio voltar a crescer”, analisou.
Mauro Alvim sintetizou ao final: “O Rio tem potencial para liderar um novo ciclo de desenvolvimento industrial. Mas isso exige coordenação entre governo, empresas e entidades representativas”.
O segundo painel ampliou a discussão ao colocar em foco setores de consumo e as vocações produtivas como moda, joias, cerveja, alimentos e tecnologia. A moderação foi da 1ª vice-presidente da Firjan CIRJ e presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Estado do Rio de Janeiro (Sinditêxtil), Isadora Landau Remy, que qualificou o estudo da Firjan como um “verdadeiro mapa de oportunidades” para o Rio. Para ela, o estado combina ativos culturais, criativos e industriais raros, capazes de gerar valor e diferenciação.
Carla Pinheiro, diretora da Firjan e presidente do Sindicato das Indústrias da Joalheria e Lapidação de Pedras Preciosas do Estado do Rio de Janeiro (Sindijoias), ressaltou o “soft power natural” da marca Rio, que integra história, design e emoção. Segundo ela, a joalheria fluminense sintetiza essa identidade, ao transformar criatividade em valor agregado. Projetos como o Sou do Rio, realizado com o Sebrae, reforçam essa vocação ao conectar criadores, arquitetura, artes e design.
“A marca Rio é, por si só, um ativo econômico. Existe um imaginário coletivo mundial que associa o estado a criatividade, movimento, leveza e autenticidade. Isso é soft power, e poucos lugares do mundo possuem um capital simbólico tão forte. Precisamos transformar esse valor intangível em diferencial competitivo”, avaliou, acrescentando que joia gera emprego, renda e conecta diversas cadeias: metalurgia, lapidação, design, comércio e tecnologia.
Marcio Maciel, presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), levou ao painel a força da indústria cervejeira, responsável por 85% da produção nacional entre empresas associadas ao sindicato. O Rio, diz ele, é o estado com maior número de municípios com cervejarias, apoiado pelo desenvolvimento do lúpulo na Serra e por processos de produção cada vez mais inovadores, alguns, inclusive, com uso de inteligência artificial. “Isso gera inovação, turismo e identidade local”, destacou.
Por outro lado, Antônio Carlos C. Cordeiro, diretor da Firjan e presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio de Janeiro (Sindlat - RJ), apresentou um diagnóstico impactante do setor lácteo fluminense. O Rio consome 2,8 bilhões de litros de leite equivalente por ano, mas produz apenas 390 milhões — menos de 20% da demanda. Há sete anos, produzia 540 milhões. “Essa queda retirou cerca de R$ 400 milhões da renda do interior”, alertou. Cordeiro defendeu políticas mais fortes de estímulo, modernização das propriedades e desenvolvimento de produtos lácteos de maior valor agregado.
Representando o setor de moda, Gustavo Moraes, presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Nova Friburgo e Região (Sindvest), destacou o protagonismo de Nova Friburgo, responsável por 36% da produção nacional de moda íntima, praia e fitness. Ele apontou o avanço tecnológico das fábricas, já apoiadas por inteligência artificial para acelerar processos de criação. O projeto de Indicação Geográfica de Moda Íntima, previsto para 2026, deve ampliar o reconhecimento internacional do polo. “O mundo busca brasilidade, e nós sabemos entregar tecnologia com identidade”, afirmou.
A visão final, compartilhada pelos debatedores, aponta para um Rio de possibilidades. Um estado capaz de transformar história, criatividade, tecnologia e indústria num projeto econômico vibrante. Como concluiu Isadora Remy: “o Rio tem tudo para acelerar uma nova rota de desenvolvimento. Cabe a nós integrar setores, superar entraves e fazer desse potencial uma realidade”, finalizou.