Publicado em 13.11.2018

Esqueça a ideia de que estudar o futuro é assunto místico. Pelo contrário, experts e empresas do mundo inteiro se debruçam sobre dados concretos e pesquisas para apontar tendências e comportamentos dos consumidores e sociedade em diferentes áreas nos próximos anos e até décadas.

O designer brasileiro Fernando Galdino está entre esses especialistas. Ele começou se especializando em etnografia para entender o comportamento das pessoas antes de elaborar seus projetos, mas acabou virando pesquisador e futurista. Galdino integra hoje o time da GfK Verein, um instituto sem fins lucrativos que estuda como consumidores e organizações tomam decisões em diferentes mercados, baseado em Nuremberg, na Alemanha.

– Quando você trabalha com o projeto de uma empresa, está sempre trabalhando com o futuro. Cria alguma coisa hoje, pensando que ela precisa estar boa daqui a 15 anos. Uma das principais correntes de pensamento sobre o futuro nasceu nas Ciências Políticas, durante a 2ª Guerra Mundial, nos Estados Unidos, na tentativa de antever situações de confronto. Como o tempo, os estudos se expandiram para todas as áreas – explica ele.

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O trabalho de Galdino segue a linha que inaugurou a área futurista, analisando tecnologias e comportamentos emergentes para antecipar tendências e seus possíveis desdobramentos. No atual cenário de excesso de informações pela rede, a coleta de dados precisa ser feita com ainda mais precisão.

Para analisar os rumos do mercado, o time da GfK Verein se reúne anualmente com especialistas de áreas diferentes em um workshop. Experts dos campos de “tomadas de decisão”, marketing, inteligência artificial, segurança cibernética e programação discutem assuntos relevantes e trocam informações sobre tendências e seus indicativos principais. Dos encontros, surgem perguntas ou hipóteses que são respondidas nos meses seguintes.

As novas maneiras de interagir com dados também mudaram muito a relação no mercado entre usuário e empresas. Galdino acredita que a incidência da interface de voz na tecnologia e na ações na internet terá impacto significativo. Segundo ele, já é possível perceber, por exemplo, que assistentes virtuais de comando de voz  podem oferecer menos resultados de buscas quando requisitados, numa comparação com os sites de pesquisa tradicionais.

– Como já sabemos disso, qual o seu impacto no mercado? Que diferenças o usuário encontra entre interagir por meio da voz e digitar em um site? As pessoas estão mais propensas a tomar decisões quando interagem por voz? Elas estão mais dispostas a pagar mais ou menos nessa interface? – questiona.

Cientista de dados

O excesso de informações disponíveis on e offline está mexendo com as empresas. Muitas delas usam métodos internos para cruzar dados, mas o novo cenário indica também alterações no campo das profissões.

– Nos últimos anos, empresas começaram a criar departamentos internos de ciências de dados para trabalhar com informações e coletá-las dos usuários. A função de “cientista de dados” deve ter forte crescimento e até se desdobrar em profissões diferentes. Fenômeno comparável ao que ocorreu com os “webmasters” do início da internet, que faziam diferentes tarefas, que com o passar dos anos foram sendo distribuídas entre designers, pesquisadores de UX (experiência do usuário em inglês), programadores, gerentes de mídia social, entre outros. Esse excesso e complexidade de informações tende a se concretizar até como indústria – pontua Galdino.

Por mais expansivo que o ambiente virtual seja, a questão da segurança dos dados e das plataformas ainda é um problema. Na opinião do especialista, o índice de ataques a páginas e perfis tende a ficar cada vez maior. Para ele, o cerne da questão pode estar no comportamento indiferente de usuários em relação ao vazamento de informações na rede.

– As pessoas acham que isso não afeta a vida delas e não entendem os efeitos disso. No entanto, empresas hoje têm inclusive a capacidade de aprender como as pessoas agem nas redes sociais e internet e criar publicidade direcionada ao perfil de cada uma. O risco não é só de vazamento de dados, mas de como eles são usados – prossegue Galdino.

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Em dezembro, Galdino vem ao Rio de Janeiro discutir como reconhecer esses sinais de mudança no comportamento das pessoas. No dia 8 do próximo mês, ele participa do Festival Futuros Possíveis, que acontece na Casa Firjan.

O evento tem o objetivo de disseminar conteúdo construído por meio de pesquisas, discutindo como inovações podem impactar a sociedade não só no consumo, mas também em políticas públicas, como relações de trabalho, educação, saúde e transportes, e conteúdos voltados para o indivíduo, como ciborgues, realidade aumentada e inteligência artificial.

– Queremos trazer discussões e diversos olhares para refletirmos sobre o futuro. O que vem por aí, o que vai impactar nas empresas como prepará-las para a transformação – explica Carolina Fernandes, especialista em projetos especiais da Casa Firjan e responsável pelo Laboratório de Tendências da Firjan.

Sempre investindo em empresas de diversas áreas, a Firjan trabalha com a visão de tendências. A proposta de pensar a nova economia cresceu ainda mais com a abertura da Casa Firjan. O trabalho de pesquisa do Laboratório de Tendências resultou em um relatório que vai ser apresentado durante o evento.

– Vamos mostrar três impactos da relação homem-máquina. Percebemos o impacto da tecnologia, mas não vemos exatamente o uso dela. Porque a tecnologia por si só não transforma totalmente, o uso que as pessoas fazem dela é que transforma – conclui Carolina.

O festival acontece de 8h às 21h e terá palestras, painéis e oficinais voltados para pensar o futuro.
 

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