Fórum de Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio de Janeiro foi realizado no plenário da AlerjFoto: Vinicius Magalhães
O Brasil possui a sexta maior reserva de urânio do mundo e o estado do Rio é o único ente federativo com geração de energia nuclear. Em Angra dos Reis, há a Central Nuclear Almirante Álvaro Aberto (CNAAA), formada pelo conjunto das usinas Angra 1, 2 e 3 – esta última ainda em construção. Por isso, as possibilidades de contribuição da indústria nuclear para a recuperação econômica fluminense foram debatidas no Fórum de Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio de Janeiro, do qual o Sistema FIRJAN faz parte.
Segundo a Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras, em 2016, as usinas Angra 1 e 2 geraram, juntas, quase 16 milhões de megawatts-hora, a melhor marca da história, o que corresponde a aproximadamente 3% da energia elétrica consumida no Brasil. Atualmente, elas respondem a apenas 24% da capacidade de geração do estado, mas atendem a 50% do total de energia consumida no Rio de Janeiro.
Com a conclusão da Angra 3, que teve as obras paralisadas em 2015, a CNAAA poderá atender a 75% da demanda fluminense, segundo Leonam Guimarães, diretor técnico da Eletronuclear. “A indústria nuclear ficou estagnada nos últimos anos, mas há muito potencial para mudar isso, visto que quase toda a cadeia produtiva do ciclo do combustível nuclear fica concentrada aqui”, afirmou.
O Sistema FIRJAN, historicamente, defende a produção de energia por meio do combustível nuclear. Para Sérgio Duarte, vice-presidente da Federação, a perspectiva para a indústria fluminense é de que a conclusão de Angra 3 poderá estimular o surgimento de uma cadeia produtiva voltada para as aplicações da tecnologia nuclear, gerando empregos e renda de alto nível para o estado.
“É possível estimular o desenvolvimento de outros segmentos industriais, já que a aplicação da tecnologia nuclear pode ser utilizada na agricultura, medicina, indústria alimentícia, entre outros setores. Além disso, o estado possui potencial para enriquecer todo o urânio a ser utilizado nas usinas, podendo ainda se tornar exportador do material. Dominar esse ciclo consolidaria a capacidade tecnológica do Rio e sua maior participação no cenário internacional nuclear para fins pacíficos”, analisou Duarte.
O vice-presidente da FIRJAN lembrou que o setor elétrico brasileiro passa hoje por grandes transformações. O Ministério de Minas e Energia (MME) colocou, recentemente, a proposta de um novo modelo para o setor em consulta pública. Em sua contribuição, a Federação ressaltou que é importante que a reestruturação seja baseada em uma visão de mercado, mais madura e mais robusta, assim como a necessidade da integração da geração nuclear nessa mudança. A proposta do MME seguirá para o Congresso em setembro.
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Vice-presidente da FIRJAN lembrou que o setor elétrico brasileiro passa hoje por grandes transformações | Foto: Vinicius Magalhães |
Energia nuclear
Celso Cunha, presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares, destacou que o país precisa se adaptar ao novo mercado de energia, que impõe a redução da emissão de CO2. De acordo com ele, o uso de usinas nucleares vem crescendo no mundo por serem sustentáveis, de baixo custo, seguras, geradoras de poucos resíduos e por utilizarem áreas reduzidas para produção.
“Vale ressaltar que o Brasil possui uma matriz energética híbrida, que está optando cada vez mais por energias renováveis de fontes intermitentes, ou seja, aquelas que não podem ser fornecidas continuamente devido a fatores não controláveis. Isso gera a necessidade de complementar a matriz com termelétricas, num cenário em que a energia nuclear é a opção mais viável”, explicou Cunha.
Reynaldo Barros, presidente licenciado do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), enfatizou o papel da engenharia para o setor nuclear: “A força da engenharia de um país está intimamente ligada à capacidade de inovação tecnológica e competitividade industrial. Por isso, é preciso investir na formação de mais engenheiros para desenvolver não apenas a indústria nuclear, mas a economia como um todo”.
O Fórum de Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio de Janeiro foi realizado no plenário da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), em 29 de agosto.